domingo, 17 de fevereiro de 2008

Rumo a Néuquen

Sei que me esperam catorze horas de viagem de Buenos Aires até Neuquen, mas estou optimista.

A verdade é que o conceito de "autocarro" que tem os argentinos é muito diferente do nosso. Para começar aqui chama-se micros e são de grande qualidade.
Os comboios são praticamente inexistentes já que a maioria das linhas férreas foram desactivadas porque reprentavam um serviço que o estado considerava demasiado caro. Assim que todas as viagens neste país que parece não ter fronteiras e não acabar nunca, se fazem de autocarros.
E devo dizer que a Continental Airlines teria muito a aprender com a Via Bariloche. Aliás todas as companhias de aviação do mundo teriam muito que aprender com as empresas de autocarros argentinas. Principalente na parte do cathering.
Falo este entusiasmo porque acabo de me deliciar com uma fantástica lasanha de carne e vegetais!

Ao meu lado viaja uma senhora com a filha que deve ter três ou quatros anos. Está excitadissíma com tudo: a almofadinha, a manta polar,o tabuleiro, os talheres, a salada fria, o pudim, la dulce de leche, os assentos que se inclinam e fazem quase uma cama. Eu estou muito mais excitada do que ela com todas estas novidades e comodidades, a única diferença é que estou caladita.

Depois da fantástica refeição reclinar a cadeira completamente e dormir enroladinha na manta.
(nota- as mantinhas polares são indispensáveis porque os argentinos tem uma relação doentia com os ares condicionados e faz un frio que te cagas no micro!)
Estou com um grande débito de horas de sono. Ontem insónias. Para além do mais, o hostel estava en fiesta! A Ludmila fazia anos e havia muita animação, cerveja, empanadas e argentinos e mexicanos que ocupavam um grande espaço sonoro. Saí à francesa da festa, porque quando tentei despedir-me, começaram a cantar, gritando: "que la portuguesa no se vaya!"

São 9h da manhã e estamos quase a chegar a Néuquen. Entro na mítica região patagónica.
Antes de apanhar o autocarro fui deixar algumas malas (tenho mesmo de aprender o conceito de travel light...) e beber um mate frio na casa da Maru, o meu anjo da guarda argentino. Está com um baralho de cartas osho-zen. Diz-me para tirar uma. A consciência. Está relacionada com viagens. Viagens do conhecido para o desconhecido, viagens do desconhecido ao incogniscível. Curioso...

Lá fora a paisagem desértica.
A menina que viaja ao meu lado começa a ficar impaciente. Eu também. Ela canta e eu escrevo.

O Pol está à minha espera na estação. Mesmo neste imenso país consigo sentir que o mundo é pequeno. É incrível reecontrar este meu amigo catalão aqui, na Patagónia! Sorrio com estas agradáveis coincidências da vida.
Explica-me que ele e a Joana estão à dois meses a viajar pela Argentina e que agora estão a ficar num centro de coordenação dos Mapuches de Néuquen. Houve festa ontem e quando chegamos todos estavam com cara de ressaca. Falam-nos do trabalho que realizam na defesa da cultura Mapuche, quase toda dizimada no secúlo XIX.

Oiço. Tento absorver tudo. É muita coisa, principalmente muita coisa nova.

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