quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

uma odisseia intercontinental

8h30 aeroporto da portela. despedidas e questionários.

Um senhor, com uniforme da Continental airlines com um ar inquiridor e seguramente treinado pelo FBI, faz-me demasiadas perguntas. Pergunta-me quem fez as malas, onde é que estiveram antes de vir para o aeroporto, se recebi alguma coisa de alguém, qual é o objecto mais perigoso que transporto. Faço um esforço muito grande para não me rir e com um ar muito sério de pseudo-criminosa respondo-lhe: "uma pinça!". Não me perguntou se tinha intenção de assasinar o presidente dos Estados Unidos. Tive pena.

Este episódio iria repetir-se mais uma vez, exactamente as mesmas perguntas idiotas mas com o upload de também ter que ligar o computador e tirar os sapatos. Perguntam-me se tenho explosivos e tenho vontade de responder " claro que sim! aliás nao viajo nunca sem eles! mas desta vez estou com um pouco de pressa,não sei se os utilize... ". ahhhhhhh.....

Porta de embarque. Calafrio. A despedida é sempre um momento dificil (não fosse eu uma inveterada lusitana adicta em "saudade") e a água dos olhos da minha irmã rapidamente se transfere para os meus. Até já....

Lisboa-Newark

As primeiras sete das muitas horas que se iriam seguir a este itinerário de viagem, que consiste em dar meia-volta ao mundo para chegar ao meu destino, passam vagarosamente.
Buenos Aires faz-se pagar, penso..

13h30 hora local . Chegada a New York.

Não vejo sinais do que me dizem ser a grandiosa Nova Iorque. Olho lá para fora e vêm-me à cabeça aquele grande êxito da chanson portugaise: "Cai neve em Nova Iorque, faz sol no meu país..."
Neva, portanto, muito....

Quando percebo que os senhores da Continental me vão obrigar a tirar as malas e fazer um novo chek-in, conto até 10 e tento pensar em coisas bonitas para não me irritar muito. Em vão. Irritadissíma e cheia de malas (coisa que de facto não é responsabilidade da Continental mas não importa) volto a entrar noutro avião (igual) onde à entrada me espera o mesmo festim surreal e decadente que consiste num monte de pessoas descalças, a tirar tudo das malas diante do ar desconfiado e de pânico dos guardas.

Newark-Houston

Há duas horas e meia que estamos no avião e nada. O avião paradíssimo e ninguém diz o que se está a passar. Enquanto os passageiros americanos mantém o seu ar sereno e apático, os passageiros argentinos começam a "levantar onda" e a inquietar-se ( por razoes óbvias encaixa-me mais no segundo grupo do que no primeiro...). Ainda por cima estou retida num avião que se chama George Bush Intercontinental. Um mal nunca vem só.
Lá fora, neva, neva, neva.
Levanto-me e vou ter com a Maru, com quem tinha trocado meia dúzia de palavras na sala de espera e que viria a ser a minha grande companheira de viagem.

Depois de darem um duche ao avião (por causa da neve, calculo), finalmente arrancamos.
Apesar do cansaço, a dificuldade em dormir é muita. O lugar ao lado da Maru é muito melhor que o meu, tem imenso espaço à frente e dá para esticar as pernas. Ainda assim nao consigo dormir. Conversamos. Sobre as nossas vidas, percursos, Buenos Aires, Europa...

Nova paragem: Houston - Texas

Com tanta escala, tanta hora de voo, já não sei que horas são, nem a quantos jet legs ando.
Sei que estes americanitos estão mesmo muito empenhados em "tocar-me las bolas"... atão não é que nos obrigam a sair outra vez só para voltar a entrar no mesmo avião????
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Terceira e última (espero!) parte do trajecto : Houston - Buenos Aires

Quase morro quando a hospedeira me diz que são mais 10 horas e meia até chegarmos ao meu destino final. "No puede ser, no aguanto" - desabafo com a Maru. Ela diz-me que pode "compartir" comigo um valium que tem, para dormirmos as duas como "angelitos". Aceito mas peço-lhe que não me deixe ficar no avião se não acordar quando chegarmos a Buenos Aires.

Apesar do extremo cansaço, da sinusite a piorar e do rabo quadrado com a forma da cadeira, os olhos riem e emocionam-se quando o Ricardo e a Maru me dizem que estamos a passar no Mar de la Plata. De prateado não nada, mas é um serpenteado e impressionante rio de cor castanha e viva!
São 13h30 (hora local), estão 24 graus e chegámos a Buenos Aires. Finalmente!

Não sei muito bem como, mas suponho que é por ser "una pelotuda", acabo em casa da Maru, num ambiente familiar, extremamente afável e acolhedor a comer uma bela refeição argentina.
"Bienvenida" -diz-me a Maru e a família dela.
"Gracias!" - responde-lhes.

Não tenho como não me sentir em casa!

2 comentários:

Meres disse...

Mana, aponta todas as histórinhas para o próximo filme!! Que bom o acaso, acabares com a Maru e a sua família!!
beijos e saudades!!!

filamentosmovimentos disse...

Bem vinda aí a terras férteis e soalheiras! Os acasos sorridentes dão sentido ao acto de viajar e à aventura vivida. Que o acaso te aconchegue por aí, amiga.
Eu falhei a despedida... além de não gostar de despedidas, pq a vida é uma enorme viagem colorida, eu e as madrugadas temos uma relação difícil... Desculpa não ter conseguido escapar-me ao sono para te dar um abraço forte, mas aqui fica ele na web, de braços abertos a fechá-los bem agarradinhos a ti, sempre que quiseres un abracito. : )