quarta-feira, 12 de março de 2008

Nas terras do fim do mundo






De mochila às costas, caminho na direcção do hostel.
São 21h e ainda falta para ficar de noite. Está um entardecer suave e lânguido.
A temperatura nem cálida nem gélida.

Toca o telefone. Grito:
- Momy, estou no fim do mundo!!!!


Por um lado, qualquer sítio depois do autocarro me parece ser o melhor sítio do mundo; por outro qualquer sítio depois do hostel do Augusti me parece ser o pior sítio do mundo.

O Hostel Torres del Sur está afastado do centro. Tem um ar simpático e acolhedor e grandes vistas para a baía de Ushaia, mas tem regras e horários demasiado estritos.
A cidade tem este nome, Usuhaia, porque em Yámana significa " baía que se estende para o poente".

Os Yámanas eram um dos povos indígenas nómadas que originalmente habitaram a Terra do Fogo, e que tem este nome porque quando por aqui passavam os barcos de expediçoes, viam sempre fogueiras acesas.
Quem as mantinha acessas eram os Yámanas para os proteger do frio e para cozinharem os alimentos.

Yámana, segundo Thomas Bridge (que se dedicou durante anos a escrever o dicionário Yámana) como verbo quer dizer: "viver, respirar, ser feliz, restabelecer-se de uma doença ou ser são".
Por ironia do destino a extinção deste povo indígena foi precisamente a antítese do nome que usavam. Vítimas de epidemias várias, relacionadas com a tentativa das missoes anglicanas que em 1871 aqui se estabeleceram de "civilizar" os índios, morreram milhares de Yámanas.

Por volta de 1900 alguém decide que este é o sítio ideal para construir um prisão de alta segurança. Foram vários os presos "famosos" que por aqui passarsam: Carlos Gardel, Simon Radowizky e o conhecido "assasino do prego", que matou bárbaramente dezenas de crianças. Consta-se que foi devido ao mórbido prazer que tinha em assistir aos funerais das crianças que havia matado, que foi descoberto. Surpreendido por não ver a arma do crime, durante um dos funerais, perguntou: "Y el clavo?".


"A cidade mais meridional do planeta", "o lugar mais remoto da terra", "o extremo mais austral do mundo", são vários as denominaçoes que Usuhaia se dá a si própria. Se lhe tivesse que chamar alguma coisa seria"a cidade com mais marketing do mundo".
E não sei se é pelo excesso de slogans e de superlativos se pelo excesso de aproveitamento (ou devo dizer exploração??) turístico, mas para mim Usuhaia foi (e por dizê-lo de alguma maneira...) a maior desilusão do mundo!!!

Enormes contentores, casas pré-fabricadas, um urbanismo feio e desordenado, lojas e mais lojas, agências de viagens e cafés que têm escrito na montra coisas como: "Café de la Esquina - desde 1993"! Uma variedade exagerada de excursoes para todos os gostos e carteiras que pretendem proporcionar ao viajante um experiência inesquecível do fim-do-mundo. Não a terá.
Penso: "como é que puderam fazer isto ao fim-do-mundo?"

Restabelecida do choque e com as expectativas de volta ao ponto zero, resolvo-me a explorar melhor a Terra do Fogo.



De novo são as pessoas que encontro que voltam a fazer a diferença na forma de sentir um lugar e de novo a multiculturalidade é uma constante que se faz sentir.
De mochilas às costas e devidamente abastecidos de comes e bebes, uma portuguesa, um austriáco, um australiano, um alemão e um basco partem para o Parque Nacional da Terra do Fogo - eu, o Martin, o Mark, o Timo e o Álvaro!
Cenários lindo, fotogénicos e paradisiácos desfilam pelos olhos de quem conhece pela primeira vez algumas das tonalidades que a natureza pode produzir!
Entre senderos, baías, cerros, bosques, lagunas, turvales, percorremos cerca de 30 kilometros.

No dia seguinte a caminhada ao Lago Esmeralda foi igualmente puxada mas o resultado não podia ser mais compensador....






Á noite no Hostel, "alguém" armado em Máma italiana de , resolver fazer uma paella para la famiglia de 4 ragazzos que comem por 8. Com a ajuda de algumas guitarras houve festa e até a rígida administração do hostel não conseguiu resistir ao charme desta ruidosa famigli deixando que a festa se alargasse até tarde.

2 comentários:

filamentosmovimentos disse...

Não estás no fim do mundo.
O mundo é aqui onde estamos todos.
E, caramba, é cada pedaço de mundo que nos apresentas!
Um abraço forte, Patanisca : )
Comme to Momy ; ) eh eh

filamentosmovimentos disse...

Come esse mundo todo! e não comme (como o erro do comment anterior)
; )