quinta-feira, 13 de março de 2008

Welcome to Calafate City!

São os desejos da hospedeira da LanChile.
A viagem até El Calafate é feita de avião porque só a ideia de ter de voltar outra vez pela tortura das quatro mil alfândegas, matava-me!

Pela janela, a visão é impactante. Um enorme lago azul de origem glaciar, que penso tratar-se do Lago Argentina, acompanha o meu caminho até ao centro da cidade.
É de um azul límpido, tranquilo e meigo - muito parecido com aquele que existe nos olhos do meu pai.

Estou aproxidamente a meio da minha viagem e sinto que algum cansaço subtilmente se começa a instalar no corpo. Depois, a fauna e o ambiente dos destinos muito turísticos, fazem com que seja impossível não nos sentirmos apenas como turistas. Com o respectivo câmbio para euros, doláres, pesos (não importa a moeda de transacção) aqui todos somos "carne para canhão".

E tudo isto faz com que se abata sobre a patanisca, uma espécie de crise. De fragilidade, de cansaço, de desilusão, de tristeza.
Um café com uma frase do Borges à entrada, serve de porto de abrigo para a viajante em crise.
Julgo ser este o café dos livros que vinha na lista de recomendaçoes da Ilda.

Obviamente a passagem por El Calafate tem apenas um objectivo: ver o glaciar Perito Moreno.
Não é o maior dos glaciares que existe no Parque Nacional dos Glaciares, mas é o mais acessível e o único com o qual se pode ter um encontro têtê-a-têtê.





O nome do glaciar é uma homenagem a um expert em geografia e que foi o responsável por traçar as fronteiras com o Chile: Francisco Moreno.
Moreno apesar de ter declarado este território como zona protegida e Parque Nacional, em 1837, na verdade nunca chegou a ver o glaciar.
Imagino a cara da pessoa que terá visto este glaciar pela primeira vez. Consta-se que foi um chileno (tarde demais! - terá pensado - mas as fronteiras já estavam definidas!)





O encontro com o glaciar Moreno é uma espécie de encontro em 10º ou em 11º grau.

A única comparação que me vem à cabeça para explicar a sensação que é ver este imenso gigante, é parecida com a emoção de assistir a um jogo da selecção nacional nas finais do campeonato mais importante do mundo. Claro que os "golos" são os despreendimentos. A metáfora é pobre, mas é a possível...


Ao contrário do que se poderia pensar, apesar da multidão ansiosa e maravilhada que divide este espaço, há um silêncio imenso e concentrado. Está toda a gente atenta. Deliciada e atenta. Não vá dar-se algum despreendimento e que isso escape à máquina fotográfica ou à visão.





Antes de o ter visto, já o tinha conhecido através dos vídeos da minha mãe, através das cartas de amor da Ilda, através de descriçoes de amigos, de livros... mas nada é comparável à sensação avassaladora de o ver de perto, de muito perto.


E não há palavras, adjectivos, superlativos que expliquem ou descrevam este fenómeno natural.
Ele existe. Simplesmente.
Respira, muda de cor, enfeitiça, envolve-nos. Deixa-se cair, deixa-se admirar - como alguém seguro da sua grandeza.
Aqui qualquer descrição, qualquer imagem seria redutora e por isso inútil.
Talvez as palavras e as fotografias sejam ainda insuficientes para explicar certos momentos da nossa vida. Talvez porque, em certos casos nao existe explicação nem tradução.
Existe apenas uma contínua, maravilhada e exacerbadora contemplação da beleza!

E com esta sensação de impossibilidade da comunicação vejo o glaciar afastar-se lentamente dos meus olhos.







2 comentários:

lila disse...

Estive ai contigo, junto a essa maravilha única.
A grandeza do gigante fez-me esquecer a voracidade do comercio para turista.
Beijos mil

lili disse...

Estás comigo, minha linda. vieste na minha mochila, lembras-te?
é um prazer partilhar viagens contigo, na verdade é uma retribuiçao!!
beijos deste lado do atlântico que sabes teu...