A entrada em Santiago não começou exactamente da melhor forma.
As viajeras definitivamente já não estão habituadas à cidade e a cidade a elas. Depois de caminhar durante umas 1000 quadras ( as unidades de distância utilizada nestes lados do mundo), viemos dar ao sítio onde incialmente tínhamos partido e aí encontramos um hostel: o Che Lagarto.
O Sebastian está na recepção e dá-nos a boas-vindas. Conta-nos que todos estão de ressaca porque ontem houve festa até as tantas. O Che Lagarto tem um ar muito cool: um pátio verde onde estão espalhadas várias mesas, uma enorme cozinha en tons de branco e preto e umas casa de banho em tons de amarelo e vermelho.
Olhar para o mapa de santiago e decidir que fazer, é tarefa díficil. A cidade é enorme, é imensa em tudo; tem 6,5 milhoes de habitantes e é a terceira cidade mais poluída da América Latina.
Os Santiaguinos orgulha-se da sua capital "europeia" e na verdade é como se estivéssemos numa capital europeia que nos é muito familiar: Madrid!
Passeamos pelo Parque Florestal, cujo nome talvez seja um pouco exagerado e enganoso. Afinal é apenas uma grande avenida com algumas árvores, mas daí a um parque florestal, convenhámos.. É mais parecido com a Avenida da Liberdade do que com Monsanto!!
Se há coisa que muito me impressiona por estas terras, é a quantidade de farmácias por metro quadrado. Há farmácias a cada esquina, e vendem de tudo: fraldas, cosmética, refrigerantes, bolachas, detergentes, livros... até medicamentos vendem!
Passamos por La Moneda, tiramos fotos à estátua do Allende e tentamos reconstituir nas nossas cabecas datas, cronologias e episódios da sangrenta história chilena recente. Num país onde se sente de forma clara o índice de crescimento económico e cujas políticas liberais ocupam todo o espaço (o que se pode verificar pela quantidade de cartazes que dizem "mira como chile progride") , a febril ânsia pelo progresso procura apagar as memórias de uma longa e sangrenta ditadura.
Ainda assim impressiona que no Chile não existam universidades públicas e que todos aqueles que querem ingressar no ensino superior sejam obrigados a contrair pesados empréstimos ad eternum ao Estado. Num país onde o recurso ao crédito parece única forma de sobrevivência...
Passeamos pelas Belas-Artes, pelo jardim de Santa Luzia (um verdadeiro pulmão no centro da cidade), pelo bairro da Bellavista - também chamado bairro boémio e por aqui resolvemos jantar. Não era um jantar qualquer, era um jantar de despedida... bem na verdade era um jantar de "até já"!
Depois de quase duas semanas a viajar juntas num registo muito intenso, despreocupado, em sintonia, seguimos caminhos diferentes: a Andrea vai para o Rio e eu para o norte da Argentina. Juntas partilhámos emoções, quartos, aventuras e a descoberta de um mundo distante.
A portuguesa e a catalã resolveram abrir os cordões à bolsa e escolheram um restaurante chamado Garlic, com um ar muito acolhedor. A meio da requintada refeição oiço algo familiar. Mísia. E ouvir Fado em Santiago do Chile, acende no meu peito a tão lusitana Saudade.
A saída de Santiago em direção a Mendoza constitui uma curta viagem.
Apenas seis horas - e sorrio com a descontraída condescendência que estas imensas distâncias sul-americanas que começam a inspirar.
A viagem decorre tranquila e confortável a bordo dos já tão conhecidos micros e que constituem uma forma bastante aceitável de passar a noite .
Sem qualquer sentimento de revolta ou irritação passo a fronteira.
Passo do guichet da Polícia Chilena para o guichet das Migraciones Argentinas e por sua vez para guichet da Polícia Argentina, não sem antes claro, passar pelo posto onde inspeccionam a bagagem... e tudo isto com uma tranquilidade tão irreprensível que faria inveja a Buda.
Nem mesmo o facto de chegar a Mendoza duas horas e meia antes da hora prevista (e diga-se que essa hora seria às 7h da manhã- o que na presente situação fazia alguma diferença) consegui abalar a minha calma convicção.
O segurança do Terminal vem ter comigo e recomenda-me cuidado com as minhas malas por causa dos "pendejos" que ali circulam.
O dia, ou melhor dizendo a madrugada, já nao tinha começado bem e teria tendência a piorar.
O Terminal de Omnibus, que está muito longe de ser um sítio agradável para se estar às 4h30 da manhã, seria o local onde inevitavelmente teria que voltar e passar muito tempo na messiânica tarefa de encontar um boleto, que finalmente me levaria ao norte.
Com o ânimo já um pouco frágil decido-me a conhecer a Mendoza, a cidade dos vinhos.
E o poderia ter sido um lindo passeio de bicicleta pelas vinhas e bodegas nos arredores de Mendoza, pode resumir-me a uma estrada de cheia de buracos, uma paisagem desinteressante, ter ingerido uma quantidade fenomenal de pó e de tubos de escape e para ajudar à festa, buzinadelas e piropos desagradáveis de camionistas que faziam razias impressionantes ao meu veículo velho e sem travões.
À noite, esgotada e sem esperança, valeram-me dois brasucas muito simpáticos que trouxeram música ao meu espírito e que com uma guitarra e acordes de samba, salvaram o dia!
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1 comentário:
Aborrecida não estavas de certeza...Até me arrepio ao ler as tuas coisas, sinto-as na pele!! Muitos beijos e saudades mana!!
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