sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um Quilombo de Regresso...

A chegada a Buenos Aires faz-se com grande agitação e incerteza.

Na estação de Omnibus de Salta muitas são muitas as pessoas que esperam desesperadas....
Motivo: há cinco dias que as estradas estão cortadas e muitas companhias cancelam viagens. A empresa A.Brown diz que o micro das 15h irá sair. Hesito em comprar o bilhete.
Nisto,
uma senhora afoita e nervosa chega e pergunta pelo paradeiro de um autocarro que saiu à dois dias de Salta e que ainda não chegou a Buenos Aires. Nessa autocarro viaja o seu marido. Desabafa:
- Es que mi marido es hiper tenso....

E de repente a hesitação transforma-se na certeza absoluta de que não irei de autocarro e que não passarei 72 horas dentro de um autocarro sem uma previsão concreta de chegada. Pergunto a várias pessoas o prognóstico da situação. Indeterminada e imprevisível - respondem-me.

Isto poderia não ser um problema, não fosse o caso de ter de estar impreterivelmente em Buenos Aires para começar o meu curso ( sem dúvida a verdadeira razão de estar na Argentina neste momento!)

Resta apenas uma opção: o avião.

Apesar de tudo isto ter alterado de forma bastante caótica a minha vida, e de estar sitiada em Salta, não consigo negar o frisson que me dá estar aqui a viver este momento histórico.
Por todo o país organizam-se manifestações, caçeroladas, protestos! É a revolta do campo!

Basicamente, e explicado de forma bem simplista, estes protestos dão-se quando o Governo Kirschner anuncia algumas medidas que pretende implementar, nomeadamente a subida de impostos para todo o sector agrícola. Quando falamos em subida não falamos de 4% ou 6% nem mesmo 10% - falamos de um aumento de 22% para 44% - o que a mim, assim à partida, me parece uma brutalidade.

No Hostel, espero ansiosamente pelas 18h para ouvir o discurso de Cristina, la presidenta.

Os que me conhecem bem, sabem exactamente o que este tipo de coisas potencia em mim; não consigo deixar de sentir o sangue revolucionário a correr-me nas veias, discute-se política em todos os lados, toda a gente quer e precisa de falar sobre isto!
(...e secretamente, sonho e desejo um golpe de estado!!! Eh eh!!)

Já que " no meu país do sul não acontece nada...", sorrio emocionada e excitada por estar a assitir a um momento de tanta agitação social. Um verdadeiro quilombo, como se diz por estas terras!!

E com o país num quase estado de sítio, regresso pelos ares à capital argentina!

1 comentário:

bojo disse...

"Ela uma vez..." num quilombo na terra do tango!
Coragem bambina!
Apesar de imaginar o turbilhão de ideias e sentimentos que fervilham dentro de ti sinto uma estupida inveja por não saber o que é viver de perto um Quilombo!!!
Um beijo deste lado do Atlântico...onde infelizmente nada acontece. "Sai um quilombo para a mesa 4, faxavor!!!!"