segunda-feira, 26 de maio de 2008

La semana de vacaciones ou La vuelta a latinoamerica en un pliz-plaz


Semana de férias. Todos sentimos que precisamos de pausa. Trocamos destinos, impressões e comparamos itinerários. Uns vão para Mendoza, outros para Iguazú, outros para a Patagónia, outros para o Norte, para Córdoba.... e os Xurries, que não tinham ainda planeado muito bem a coisa,  lá se fueron pelos caminos de latino-américa...
O plano  ambicioso e irreal, mas os viajeritos eram optimistas e os trocadilhos com as palavras Atacama e Uyuni fizeram com que nada parecesse impossível para esta  dupla lusitana de Quixote e Dulcineia!!!

Apenas 19 horas de viagem e qualquer coisa como 1700 kms separam Buenos Aires de Salta. Este seria apenas apenas o início, a inauguração de uma longa escala de percursos e kilometragem a realizar. Muitas muitas horas de estrada...
Jantamos na Peña de Balderrama. Local nocturno salteño muito conhecido pelos grupos de música popular que o frequentam. Comemos locro, humitas e tamales muito bem acompanhados de um vinho Torrontés delicioso. O apresentador da Peña é uma figura inesquecível e caricata.

A fronteira da Argentina para o Chile é feita através do Paso do Jamal, que é uma espécie de terra de ninguém. Aproximadamente 100 kms separam a saída da fronteira argentina à entrada em território chileno. 
Nada. Absolutamente nada.Não existe nenhum elemento que possa provar a existência do Homem. Montanhas altas e deslumbrantes e áridas. Tudo à volta é excessivamente árido. 
É o deserto. Mais precisamente o Deserto de Atacama.

A chegada a San Pedro de Atacama reflete os efeitos secundários da altitude, qualquer coisita como 4800 metros. Para além do estômago se ter deslocado para o esófago, a cabeça insiste em explodir do corpo no meio das montanhas. Aterramos num outro país, com outro sotaque, outra moeda, outros costumes, outro humor, outro mundo...

Aqui tudo é extremo, as paisagens, as montanhas mas principalmente a temperatura. 
A diferença térmica existente por estas zonas chega a ter uma variação térmica de mais de 20 graus, que separam o dia o da noite. 
Apesar disso, os olhos viam coisas jamais vistas, viam pôres-do-sol nunca jamais contemplados..

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A noite não podia ser mais perfeita (poder-se-ia até dizer radical..) e até houve tempo para fazer sand board no Valle de la Muerte ( espécie de surf nas enormes dunas atacameñas). E com uma lua abençoadamente cheia fomos conhecer o famoso  Valle de la Luna...

Menos perfeita e mais irregular  seria  o caminho de volta para a Argentina... pela Bolívia, portanto, através de Uyuni, onde estão as maiores salinas do Mundo.

D. Felix, condigno representante da Colque Tours e da mafia boliviana, vendeu-nos a excursão de três dias às Salinas passando por vários locais, que segundo ele, são paradisiácos e inesquecíveis. E de facto seriam inesquecíveis.... mas nem sempre pelos melhores motivos...

O que aconteceu durante os três dias da excursão foi de uma densidade física e emocional muito forte, por isso de difícil resumo e descrição.



 Três brasucas, dois portugas, uma alemã. Um 4x4 que não funciona por ignição mas por ligação directa, conduzido por um sujeito bem antipático e estranho de seu nome: Miguel.
Passado menos de uma hora rebenta a primeira de muitas discussões que se iriam suceder. Motivo: o grupo estava demasiado animado e cantava alegremente, assim que de forma completamente desproporcional e com uma total ausência de bons modos, o Miguel ordena agressivamente que nos calemos. Os ânimos exaltam-se e exigimos mudar de condutor. 
Mas estamos no deserto, sem qualquer forma de contactar com ninguém e destinados a passar 3 dias nas mãos desta criatura a quem o André, um dos brasucas, qualificava de esquizofrénico  (e atenção, não é exagero!!!)
E seria este  início atribulado que daria o "tom" a toda a viagem. 

A profunda antipatia do nosso guia-condutor, as muitas horas de viagem, o pouco espaço dividido por sete pessoas no 4x4 pelo deserto, a falta de banho, os graus negativos e dolorosamente frios, as sucessivas discussões e as escandalosas diferenças entre o folheto promocional impingido por D. Félix e realidade que nos era imposta, foram apenas alguns dos factores que conduziram a um cansaço e desgaste extremo.

Valeram-nos as paisagens, que de facto eram fabulosas, e os companheiros de viagem: a paciência da Monika e o humor contagiante e terno do Miller, do Filipe e do André.





Bolívia. 

Sem qualquer dúvida estamos noutro mundo. Os traços fisionómicos mudam completamente. Rostos morenos, índios, rudes, forte. Mulheres com longas tranças, com chapéus de coco e saias coloridas. 
Duros, densos e desconfiados, assim são os bolivianos do deserto. Acho que o clima e o meio ambiente determinam o seu carácter; não poderiam ser de outra maneira, caso contrário sucumbiriam às adversidades de um deserto árido e inóspito. 
Homens mascando folhas de coca ( principalmente lembro o velho da Atocha que tinha mais folhas que dentes dentro da boca..)
As crianças tem um olhar intenso e maduro. É o mesmo olhar que encontrei nos olhos das crianças em Moçambique, a quem a infância tinha sido roubada pela fome, pela pobreza e pela miséria.

Passagem pela Bolívia é acompanhada de uma sensação muito forte. 
È a luta pela sobrevivência. É o deserto.
Muito pó, muito frio, muito calor, 2o graus durante o dia , -5 graus de noite.
As temperaturas extremas também provocam humores extremos, que acolhem momentos de fragilidade, de desconfortos múltiplos, desprotecção e fadiga. 
O que também é completamente extremo e abusivo é a beleza desconcertante das paisagens deste país....





Odisseia igual a entrar na Bolívia, é sair da Bolívia.
Os horários dos transportes e a duração das viagens aqui são meras possibilidades especulativas.
É que existe um mundo reconhecível, meio-ocidental onde a comunicação, as telecomunicações e os transportes são um facto e outro em que tudo isso é pura ilusão e ficção. 

Perguntas como a que horas chega tal transporte, nunca me pareceram tão subjectivas e tão inúteis...  Não me lembro a quantas pessoas perguntei "a que horas sale el rapidito para Tupiza?", mas tenho a certeza de que não houve uma única resposta igual.

Os gritos e os pregões para os vários destinos na estação de autocarros de Uyuni, fazem com que a massa sonora seja impressionante e inaudível. Tentamos negociar quem nos leve a Tupiza. Dizem-nos que o mínimo são 10 pessoas. Juntamos as nossas vozes à massa sonora: "Tupiza!Tupiza!"

E assim fizemos os nossos primeiros amigos bolivianos: a Marcela e o Jorge, que também queriam ir para Tupiza. Mas eramos apenas 4...
Já completamente bebêdos de cansaço e num ataque imperialista e gringero, dizemos que pagaremos o equivalente a 8 pessoas!!!
Por esta altura, os reis del Mambo de Uyuni já esperavam qualquer coisa e coisa nehuma. Por isso não nos surpreendeu muito que depois de 1h à espera, o  choffer não tivesse chegado.



Bem, para tentar resumir, até porque o post já vai longo, o dia seguinte foi passado de rapidito e em 4x4, e por sua vez em omnibus e mais outro omnibus, para finalmente chegarmos à fronteira argentina; mais ou menos 24 horas de viagem para percorrer 800 kilométros!

O estado em que os dois viajeritos chegaram a Salta inspirava ao mesmo tempo piedade e riso.
Incapazes de apanhar outro micro de 24 horas para Buenos Aires, fomos directamente para o aeroporto de Salta, onde algo completamente inédito encerrava a nossa loca caminada; o aeroporto estava vazio!!! Vazio e às escuras. Apareceu segurança que nos informou que os funcionários só chegariam dentro de umas horas. 
E assim fizemos do aeroporto a nossa casa; tomamos banho, trocamos de roupa, organizamos mochilas, comemos, descansamos!
Lavadinhos e perfumados, monsieur Mota e madame Andrade iam recebendo as pessoas que começavam a chegar às instalações aeroportuárias transformadas em provisório lar!!

O regresso a Buenos Aires fez-se em uma hora e trinta minutos e nunca o tempo e o mundo moderno nos pareceu tão irreal e espantoso!






sexta-feira, 16 de maio de 2008

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Una Escapada de Capital Federal





A apenas 1 hora em barco de Buenos Aires, a cidade uruguaia de Colónia surge como alternativa bastante aceitável e simpática para quem necessita de fugir do turbilhão citadino.
Mais que uma cidade portuária, é um porto de abrigo, tranquilo e acolhedor que me traz uma sensação de felicidade e bem-estar na exacta medida das minhas necessidades.

Buenos Aires é uma cidade fascinante, há de tudo, aliás, há demais!!! E depois também há o meu cansaço, o cansaço de absorver muita informação em pouco tempo, há as aulas de tango e uma toda uma cartelera cultural que quero sorver! Por isso sair de Buenos Aires não é fácil e exige romper com a lógica impositiva de um corpo exausto. 




Como por acidente térmico ou por complacência divina, o sol aparece e rompe provisoriamente o frio outonal. 
A pele agradece esta primavera repentina, que na verdade é apenas um pequeno prenúncio de uma outra "primavera" que está para chegar...

Entre o prazer e a preguiça, o corpo derrete-se na branca areia das praias de Colónia e entrega-se desmesuradamente à fotossíntese, com o objectivo de armazenar de energia solar para os próximos tempos.

E de repente o sol, a água por todos os lados, os passarinhos e o excesso de oxigénio existente, faz crescer em mim um extâse incontrolável.
Talvez por isso, ouço a Sandrine dizer com o seu castelhano, que tem um acento franciú muito divertido:

- Es histérrica la porrtuguesa!!!!





Para além de tudo, descubro ( para aqueles para quem esta informação é evidente, peço desde  já desculpa pela ignorância...) que a cidade de Colónia del Sacramento é bem portuguesa, com certeza!!!

Colonizada em 1680 pelos portugueses foi, durante aproxidamente 300 anos, território português, até que os os espanhóis resolveram achar que devia ser deles...

Os vestígios deixados pelos meus antepassados fazem-se notar de forma sistemática e até orgulhosa...



Enão sei se por estar há tempo sem estar perto da natureza, ou porque de facto ela aqui é impressionante e invulgar, colecciono imagens e invento histórias surreais e absurdas....


Do amor improvável entre o chevrolet e a árvore que vive dentro dele...



ou daquela árvore que ficou cor-de-rosa por osmose....


... ou de uma outra árvore que detesta quando o vento a faz perder a compostura e despentea os seus longos cabelos...



ou a história daquela outra que sem qualquer pudor,  não fazia outra coisa senão assediar cactos que por ali passavam...


outras gostam de apenas conversar com humanos, curiosas de saber como foi a missa...




e depois há outras imagens que dispensam qualquer história: