São 11h30 da manhã. Há cerca de duas atrás arrastei-me da cama para me deslocar ao meu sitío fetiche que tanto entusiamo, excitação e tempo me proporciona: o centro de saúde.
Com o meu carregamento substancial de cadernos, livros e papeladas para organizar, monto na sala de espera o meu improvisado escritório.
A consulta, essa era para às 10h, mas eu como qualquer outra pessoa que sabe o que custa conseguir a consultazinha, sabe que o que tem a fazer é esperar… e esperar….e….
Dois médico vêm cá fora e perguntam se está alguém para a consulta dos diabetes. Bem, na verdade não tinha pensado nisso, mas uma vez que ali estou e ainda tenho sete pessoas à minha frente, porque não? – penso. Depois, medito um pouco e concluo que com a falta de humor que estes individuos tem, isso poderia fragilizar ainda mais a minha situação naquele estabelecimento, dito de saúde mas que na verdade é de espera.
E depois penso que se calhar até estou a ser injusta. Porque isto acaba por ser muito mais inspirador do que ir para um cafézinho bonito. Nunca num café teriámos a sorte de encontrar uns catálogos, muito bonitos e muito bem feitos com raparigas felizes a dar saltos no ar com títulos como “dores menstruais – o que posso fazer?”. Abro o precioso exemplar numa página ao acaso e leio: “Nunca deverá substimar as dores menstruais.” No comments.
No meio da minha emplogada e superficial leitura, um outro filme interrompe o desfile dos meus pensamentos existenciais e humor cínico. É uma senhora. Desloca-se com muita dificuldade e é amparada por dois médicos num ritmo vagaroso, pesado e dorido. Tem o sofrimento estampado no corpo e os olhos muito molhados.
Eu também fico com os olhos molhados e penso em abraçá-la.
Sem comentários:
Enviar um comentário