segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A saga continua… Godot no centro de saúde?

São 11h30 da manhã. Há cerca de duas atrás arrastei-me da cama para me deslocar ao meu sitío fetiche que tanto entusiamo, excitação e tempo me proporciona: o centro de saúde.    

Com o meu carregamento substancial de cadernos, livros e papeladas para organizar, monto na sala  de espera o  meu improvisado escritório.   

A consulta, essa era para às 10h, mas eu como qualquer outra pessoa que sabe o que custa conseguir  a consultazinha, sabe que o que tem a fazer é esperar… e esperar….e….

Dois médico vêm cá fora e perguntam se está alguém para a consulta dos diabetes.                           Bem, na  verdade não tinha pensado nisso, mas uma vez que ali estou e ainda tenho sete pessoas à  minha frente,  porque não? – penso. Depois, medito um pouco e concluo que com a falta de humor que estes individuos tem, isso poderia fragilizar  ainda mais a minha situação naquele estabelecimento, dito de saúde mas que na verdade é de  espera. 

E depois penso que se calhar até estou a ser injusta. Porque isto acaba por ser muito mais inspirador do que ir  para um cafézinho bonito. Nunca num café teriámos a sorte de encontrar uns catálogos, muito  bonitos e muito bem  feitos com raparigas felizes a dar saltos no ar com títulos como “dores menstruais  – o que posso fazer?”. Abro o precioso exemplar numa página ao acaso e leio: “Nunca deverá substimar as dores menstruais.”                                                                                        No comments.

No meio da minha emplogada e superficial leitura, um outro filme interrompe o desfile dos meus pensamentos existenciais e  humor cínico.   É uma senhora.  Desloca-se com muita dificuldade e é amparada por dois médicos num ritmo vagaroso,  pesado e  dorido. Tem o sofrimento estampado no corpo e os olhos muito molhados. 

Eu também fico com os olhos molhados e penso em abraçá-la.

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