Com uma estranha sensação de felicidade e luz, os meus sentidos exaltam-se e encontram-se com a cidade. Percorrem caminhos, fazem o reconhecimento da planta da cidade, procuram as diferenças, o que permanece intacto, igual e mutável. Procuram cheiros familiares, sabores que exigem ser satisfeitos, fazer listas rápidas mentais de “coisas que tenho fazer” : tapear nos Tres Tombs, tomar cafés com amigos, ir ao Palau de la Música, percorrer as ruas do Raval, ir as lojas da Portaferrissa, ir ao Ingeni comprar máscaras, comprar fruta no mercat de Sant Antoni, ver os velhotes a dançar Sardanas na Plaça S. Jaume, tomar un café tallat no Original, apanhar sol nas praças da Grácia, ouvir os freaks a tocar djambé no Parc de la Ciudadella (bem.. na verdade, disso não tenho assim tantas saudades...).
Combinei com a Susy no único café da cidade que tem cerca de 50 mesas na esplanada – o Café Zurich, que fica num sitio nao menos confuso e populoso: a Plaça Catalunya.
Ela vê-me e chama-me.
Está com uma barriga enorme e lá dentro está o Nilo. Abraçamo-nos.
O essencial está no sítio, concluo.
O design, a pobreza e decadência continuam a conviver pacificamente nas ruas do Raval (apesar de alguns edificios velhos terem dado lugar a prédios muito fashions), há estátuas cada vez mais feias e deprimentes nas Ramblas, a cidade continua cheia de gente, de turistas, de caras coloridas, diversas e procedentes de todos os lados do globo!
Fazer coisas muito simples.Soletrar nomes de ruas, comer patatas bravas, beber claras, sentir o cheiro a porros fumados tranquilamente nas esplanadas dos cafés. Sentir o sol quando ele sai inesperadamente das ruas estreitas do Bairro Gótico.
Sentir uma pacífica e deslumbrada sensação de famililiaridade como se nunca tivesse deixado de viver de aqui.
Passar pela Calle Compte Borrell 115 bis e demorar-me uns segundos a olhar para o segundo andar e pensar quem vive agora ali, remexer nas memórias, dizer “fem un pensament”, “patejar” no Raval, sentir o cheiro a foccacias quando passo pelo Buenas Migas, sorrir com o ar “chulissimo” da empregada do café elisabeth, dar abraços a amigos...