sábado, 19 de julho de 2008

VolVida

Na praia da Costa Nova ouço Gotan Project - Buenos Aires. Argentina. É apenas uma música, mas funciona como um memorando, como um disparador....

Corro e recorro mi vida, mi muerte
Abro caminos sobre las distancias que algunas veces que me acercan y otras me separan.
Conoci lugares que nunca imaginaba existir y sentimientos que reposan dulce y harmoniosos dentro de mi corazón.
Me llamé nombres nuevos, inventé nuevos idiomas, nuevos alfabetos
y construi una casa más al sur.
Sueño con regresos, sueño con las sonrisas de la gente...

Estoy Vol-vida, devolvida do marasmo deslumbrante de sensações e paisagens. Paisagens humanas, paisagens sonoras, visuais também. Sei que a minha pronúncia a falar castelhano nunca mais será a mesma...

As imagens desfilam nítidas e emotivas, as memórias entram invasivas no presente e o momento é de nostalgia. Existem palavras que nos custam a sair como existem regressos que nos custam a fazer...

Viajo. volto a per-correr oceanos,atravessar desertos, passar estreitos, estepes patagónicas, noroestes indios, mapuches, quechuas....

E já não é o mar da Costa Nova que está à minha frente...

Estou na calle Defensa, em frente ao Parque Lezama, tenho os meus certeiros e matinais encontros com dois passeadores de perros que são arrastados por uma docena de caninos desvairados na direcção do parque. A caminho do Espacio Ecletico, compro na panaderia 3 medias-lunas, recebo os piropos matinais ( que fashion divina!! que linda sós!!) que à força do tempo e de acostumbrar-me deixaram de constituir uma invasão. E enquanto Buenos Aires me diz buen dia, contemplo a cidade em horário matutinero e respiro o no tan bueno aire que as centenas de colectivos ajudam a mantener (o bondi 29 passa seis vezes , a carreira do 24 e do 26 e 28 e do 53 também passam umas quantas de vezes, adornando com fumo e buzinadelas o meu caminho pelo meio da frenética e cáotica paisagem urbana porteña.

E é assim o meu Buenos Aires Querido...( cuando te vuelvo a ver?...)
São os concertos no Torquato Tasso, os cafés no Federal, no Britanico, a parrilla do 1880, as enpanadas, as pastas...
E quando o meu corpo morria, quebrado, a Berta, mi chaimán, revitalizava-me com as suas massagem muito poderosas.
E lembro o sorriso terno e generoso da Augustina, com um nariz muito fungoso e 40 graus de febre: como andas, mami??estoy mal.... As conversas com a Anie e a Natália nos últimos dias, as suas divertidas explicações às minhas infantis perguntas (de volta à fase dos porquês): porquê que é que os argentinos comem tanta carne? porquê que é que os argentinos bebem tanto mate?porquê que é que os argentinos nunca param nas passadeiras? ...etc etc...

Soy del sur!! Te quiero Sur!!



E ando pela Boca, passo pelo Galpón de Catalinas Sur -o primeiro dos cerca de 39 grupos de Teatro Comunitário que existem em Buenos Aires, compro artesania na feira da Recoleta, ando por mi San Telmo, pelo Micro-centro, Belgrano, pela calle Lavalle....
E sonho com Bifes de chorizo, com as expressões das gentes: "
Que bájon.. que fiaca! que garrón!Sós un incha-pelotas!! anda a cagar!" ou a variação "te voy a cagar a trompadas!"


E foram muitas viagens em pouco tempo, muitas terras, muitos lugares, muita gente, muitos quilómetros; muitos micros, muitos hosteles, muitas provincias, muita terra, muita terra....

Com uma vida imensa dentro de mim, volto. Volto de uma vida, com a certeza de que há seguramente coisas que não voltarão a ter os nomes e os mesmo significados.
Conceitos como a distância, a generosidade, a autenticidade, a luta e a sobrevivência alteram-se, trocam de sítio, confundem-me e abraçam-me. Tocam-me.

Volvida.
Vuelve vida, vuelve a mi, como se vuelve siempre al amor...

Ode aos Porteños (com piscadela de olho à Adriana Calcanhoto)


Porteños são zarpados, porteños são copados, são malandros.
Porteños são convencidos, são descontraídos, são entusiastas.
Porteños são boludos, são pelotudos, são generosos,

Porteños são curiosos (... de donde eres?que haces en Buenos Aires?), gostam de estrangeiros e de saber das suas vidas. Gostam de opinar.
Admiram o velho continente como uma quimera, uma esperança, uma salvação...

Porteños são sentimentais, são sedutores.
Porteños são artesanos, são artistas, machistas também....

Gostam da beleza, gostam de dizer piropos (qué divina sós!) e as Porteñas adoram recebê-los.
Adoram beber mate 24h horas por dia e ir ao psicólogo.

Porteños são apegados, são possesivos, são excessivos, são cavalheiros.
Estão obececados com o troco, com as moedas e com cães.
Têm mil colectivos e bondis que abrem caminhos pelos enormes avenidas porteñas.
Porteños não param nas passadeiras...

Porteños adoram os prazeres da vida, adoram comer: empanadas, pastas, pizzas, parrilla - costillas, riñones, bife de chorizo, de lomo, asado de tira, chinchulines! Adoram beber: vinos malbec, marlot, torrontés...

Porteños são alegres, são festivos, quilomberos, são tangueros, son del arrabal, del bajo fondo donde el tango nasció!

Porteños são dramáticos, são arrebatados : Ah, ahora me mataste! .. No, esa pelicula está re-contra agotada! Estoy re-feliz!!!
São loucos por fútebol... vas a la cancha de Boca???Boooca Juuuuuniors!!!
Fazem caçeroladas...

Porteños vivem no presente, são optimistas, construtivistas, sorridentes, são lutadores!

Porteños.... estão muito vivos e gostam de viver a vida, tal como ela é : inesperada e caótica.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Volver

Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos
van marcando mi retorno.
Son las mismas que alumbraron
con sus pálidos reflejos
hondas horas de dolor.
Y aunque no quise el regreso
siempre se vuelve al primer amor.
La vieja calle donde me cobijo tuya
es su vida tuyo es su querer.
Bajo el burlonmirar de las estrellas
que con indiferenciahoy me ven volver.

Volver con la frente marchita
las nieves del tiempo platearon mi sien.
Sentirque es un soplo la vida
que veinte años no es nada
que febril la mirada errante en las sombras
te busca y te nombra.Vivir
con el alma aferrada a un dulce recuerdo
que lloro otra vez.

Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve a enfrentarse con mi vida.
Tengo miedo de las noches que pobladas de recuerdos
encadenen mi soñar.
Pero el viajero que huye tarde o temprano detiene su andar.
Y aunque el olvido que todo destruye
haya matado mi vieja ilusion,
guardo escondida una esperanza humilde
que es toda la fortunade mi corazón.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

La semana de vacaciones ou La vuelta a latinoamerica en un pliz-plaz


Semana de férias. Todos sentimos que precisamos de pausa. Trocamos destinos, impressões e comparamos itinerários. Uns vão para Mendoza, outros para Iguazú, outros para a Patagónia, outros para o Norte, para Córdoba.... e os Xurries, que não tinham ainda planeado muito bem a coisa,  lá se fueron pelos caminos de latino-américa...
O plano  ambicioso e irreal, mas os viajeritos eram optimistas e os trocadilhos com as palavras Atacama e Uyuni fizeram com que nada parecesse impossível para esta  dupla lusitana de Quixote e Dulcineia!!!

Apenas 19 horas de viagem e qualquer coisa como 1700 kms separam Buenos Aires de Salta. Este seria apenas apenas o início, a inauguração de uma longa escala de percursos e kilometragem a realizar. Muitas muitas horas de estrada...
Jantamos na Peña de Balderrama. Local nocturno salteño muito conhecido pelos grupos de música popular que o frequentam. Comemos locro, humitas e tamales muito bem acompanhados de um vinho Torrontés delicioso. O apresentador da Peña é uma figura inesquecível e caricata.

A fronteira da Argentina para o Chile é feita através do Paso do Jamal, que é uma espécie de terra de ninguém. Aproximadamente 100 kms separam a saída da fronteira argentina à entrada em território chileno. 
Nada. Absolutamente nada.Não existe nenhum elemento que possa provar a existência do Homem. Montanhas altas e deslumbrantes e áridas. Tudo à volta é excessivamente árido. 
É o deserto. Mais precisamente o Deserto de Atacama.

A chegada a San Pedro de Atacama reflete os efeitos secundários da altitude, qualquer coisita como 4800 metros. Para além do estômago se ter deslocado para o esófago, a cabeça insiste em explodir do corpo no meio das montanhas. Aterramos num outro país, com outro sotaque, outra moeda, outros costumes, outro humor, outro mundo...

Aqui tudo é extremo, as paisagens, as montanhas mas principalmente a temperatura. 
A diferença térmica existente por estas zonas chega a ter uma variação térmica de mais de 20 graus, que separam o dia o da noite. 
Apesar disso, os olhos viam coisas jamais vistas, viam pôres-do-sol nunca jamais contemplados..

.


A noite não podia ser mais perfeita (poder-se-ia até dizer radical..) e até houve tempo para fazer sand board no Valle de la Muerte ( espécie de surf nas enormes dunas atacameñas). E com uma lua abençoadamente cheia fomos conhecer o famoso  Valle de la Luna...

Menos perfeita e mais irregular  seria  o caminho de volta para a Argentina... pela Bolívia, portanto, através de Uyuni, onde estão as maiores salinas do Mundo.

D. Felix, condigno representante da Colque Tours e da mafia boliviana, vendeu-nos a excursão de três dias às Salinas passando por vários locais, que segundo ele, são paradisiácos e inesquecíveis. E de facto seriam inesquecíveis.... mas nem sempre pelos melhores motivos...

O que aconteceu durante os três dias da excursão foi de uma densidade física e emocional muito forte, por isso de difícil resumo e descrição.



 Três brasucas, dois portugas, uma alemã. Um 4x4 que não funciona por ignição mas por ligação directa, conduzido por um sujeito bem antipático e estranho de seu nome: Miguel.
Passado menos de uma hora rebenta a primeira de muitas discussões que se iriam suceder. Motivo: o grupo estava demasiado animado e cantava alegremente, assim que de forma completamente desproporcional e com uma total ausência de bons modos, o Miguel ordena agressivamente que nos calemos. Os ânimos exaltam-se e exigimos mudar de condutor. 
Mas estamos no deserto, sem qualquer forma de contactar com ninguém e destinados a passar 3 dias nas mãos desta criatura a quem o André, um dos brasucas, qualificava de esquizofrénico  (e atenção, não é exagero!!!)
E seria este  início atribulado que daria o "tom" a toda a viagem. 

A profunda antipatia do nosso guia-condutor, as muitas horas de viagem, o pouco espaço dividido por sete pessoas no 4x4 pelo deserto, a falta de banho, os graus negativos e dolorosamente frios, as sucessivas discussões e as escandalosas diferenças entre o folheto promocional impingido por D. Félix e realidade que nos era imposta, foram apenas alguns dos factores que conduziram a um cansaço e desgaste extremo.

Valeram-nos as paisagens, que de facto eram fabulosas, e os companheiros de viagem: a paciência da Monika e o humor contagiante e terno do Miller, do Filipe e do André.





Bolívia. 

Sem qualquer dúvida estamos noutro mundo. Os traços fisionómicos mudam completamente. Rostos morenos, índios, rudes, forte. Mulheres com longas tranças, com chapéus de coco e saias coloridas. 
Duros, densos e desconfiados, assim são os bolivianos do deserto. Acho que o clima e o meio ambiente determinam o seu carácter; não poderiam ser de outra maneira, caso contrário sucumbiriam às adversidades de um deserto árido e inóspito. 
Homens mascando folhas de coca ( principalmente lembro o velho da Atocha que tinha mais folhas que dentes dentro da boca..)
As crianças tem um olhar intenso e maduro. É o mesmo olhar que encontrei nos olhos das crianças em Moçambique, a quem a infância tinha sido roubada pela fome, pela pobreza e pela miséria.

Passagem pela Bolívia é acompanhada de uma sensação muito forte. 
È a luta pela sobrevivência. É o deserto.
Muito pó, muito frio, muito calor, 2o graus durante o dia , -5 graus de noite.
As temperaturas extremas também provocam humores extremos, que acolhem momentos de fragilidade, de desconfortos múltiplos, desprotecção e fadiga. 
O que também é completamente extremo e abusivo é a beleza desconcertante das paisagens deste país....





Odisseia igual a entrar na Bolívia, é sair da Bolívia.
Os horários dos transportes e a duração das viagens aqui são meras possibilidades especulativas.
É que existe um mundo reconhecível, meio-ocidental onde a comunicação, as telecomunicações e os transportes são um facto e outro em que tudo isso é pura ilusão e ficção. 

Perguntas como a que horas chega tal transporte, nunca me pareceram tão subjectivas e tão inúteis...  Não me lembro a quantas pessoas perguntei "a que horas sale el rapidito para Tupiza?", mas tenho a certeza de que não houve uma única resposta igual.

Os gritos e os pregões para os vários destinos na estação de autocarros de Uyuni, fazem com que a massa sonora seja impressionante e inaudível. Tentamos negociar quem nos leve a Tupiza. Dizem-nos que o mínimo são 10 pessoas. Juntamos as nossas vozes à massa sonora: "Tupiza!Tupiza!"

E assim fizemos os nossos primeiros amigos bolivianos: a Marcela e o Jorge, que também queriam ir para Tupiza. Mas eramos apenas 4...
Já completamente bebêdos de cansaço e num ataque imperialista e gringero, dizemos que pagaremos o equivalente a 8 pessoas!!!
Por esta altura, os reis del Mambo de Uyuni já esperavam qualquer coisa e coisa nehuma. Por isso não nos surpreendeu muito que depois de 1h à espera, o  choffer não tivesse chegado.



Bem, para tentar resumir, até porque o post já vai longo, o dia seguinte foi passado de rapidito e em 4x4, e por sua vez em omnibus e mais outro omnibus, para finalmente chegarmos à fronteira argentina; mais ou menos 24 horas de viagem para percorrer 800 kilométros!

O estado em que os dois viajeritos chegaram a Salta inspirava ao mesmo tempo piedade e riso.
Incapazes de apanhar outro micro de 24 horas para Buenos Aires, fomos directamente para o aeroporto de Salta, onde algo completamente inédito encerrava a nossa loca caminada; o aeroporto estava vazio!!! Vazio e às escuras. Apareceu segurança que nos informou que os funcionários só chegariam dentro de umas horas. 
E assim fizemos do aeroporto a nossa casa; tomamos banho, trocamos de roupa, organizamos mochilas, comemos, descansamos!
Lavadinhos e perfumados, monsieur Mota e madame Andrade iam recebendo as pessoas que começavam a chegar às instalações aeroportuárias transformadas em provisório lar!!

O regresso a Buenos Aires fez-se em uma hora e trinta minutos e nunca o tempo e o mundo moderno nos pareceu tão irreal e espantoso!






sexta-feira, 16 de maio de 2008

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Una Escapada de Capital Federal





A apenas 1 hora em barco de Buenos Aires, a cidade uruguaia de Colónia surge como alternativa bastante aceitável e simpática para quem necessita de fugir do turbilhão citadino.
Mais que uma cidade portuária, é um porto de abrigo, tranquilo e acolhedor que me traz uma sensação de felicidade e bem-estar na exacta medida das minhas necessidades.

Buenos Aires é uma cidade fascinante, há de tudo, aliás, há demais!!! E depois também há o meu cansaço, o cansaço de absorver muita informação em pouco tempo, há as aulas de tango e uma toda uma cartelera cultural que quero sorver! Por isso sair de Buenos Aires não é fácil e exige romper com a lógica impositiva de um corpo exausto. 




Como por acidente térmico ou por complacência divina, o sol aparece e rompe provisoriamente o frio outonal. 
A pele agradece esta primavera repentina, que na verdade é apenas um pequeno prenúncio de uma outra "primavera" que está para chegar...

Entre o prazer e a preguiça, o corpo derrete-se na branca areia das praias de Colónia e entrega-se desmesuradamente à fotossíntese, com o objectivo de armazenar de energia solar para os próximos tempos.

E de repente o sol, a água por todos os lados, os passarinhos e o excesso de oxigénio existente, faz crescer em mim um extâse incontrolável.
Talvez por isso, ouço a Sandrine dizer com o seu castelhano, que tem um acento franciú muito divertido:

- Es histérrica la porrtuguesa!!!!





Para além de tudo, descubro ( para aqueles para quem esta informação é evidente, peço desde  já desculpa pela ignorância...) que a cidade de Colónia del Sacramento é bem portuguesa, com certeza!!!

Colonizada em 1680 pelos portugueses foi, durante aproxidamente 300 anos, território português, até que os os espanhóis resolveram achar que devia ser deles...

Os vestígios deixados pelos meus antepassados fazem-se notar de forma sistemática e até orgulhosa...



Enão sei se por estar há tempo sem estar perto da natureza, ou porque de facto ela aqui é impressionante e invulgar, colecciono imagens e invento histórias surreais e absurdas....


Do amor improvável entre o chevrolet e a árvore que vive dentro dele...



ou daquela árvore que ficou cor-de-rosa por osmose....


... ou de uma outra árvore que detesta quando o vento a faz perder a compostura e despentea os seus longos cabelos...



ou a história daquela outra que sem qualquer pudor,  não fazia outra coisa senão assediar cactos que por ali passavam...


outras gostam de apenas conversar com humanos, curiosas de saber como foi a missa...




e depois há outras imagens que dispensam qualquer história: 

domingo, 27 de abril de 2008