Outono em Buenos Aires.
Não parece porque faz muito calor mas sente-se o tempo a arrefecer.
O Parque Lezama convoca um baile de folhas secas e amareladas que esvoaçam em espiral pelo meio das árvores.
É 25 de Abril.
São nove da manhã e compro na florista o meu "sagrado" cravo vermelho, que orgulhosamente exibo pelo meio da agitada rotina matinal porteña.
Esteja onde estiver, acho que nunca conseguirei passar este dia "em branco", e levando esta ideia às últimas consequências resolvo convocar uma festa comemorativa da respectiva ocasião!
Como se sabe, o prazer que tenho em dar festas é mínimo e praticamente inexistente - até porque, como diria o meu amigo Gui "não estamos aqui para nos divertir" - mas o meu espiríto de sacrificío é tão grande que cedo à ideia da festa!
Atão era o dia 25 de abril e no 3ºB da Calle Defensa nº1763, houve festa e da "braba"!!
As pessoas iam chegando com bebida, boa disposição, instrumentos de música e cravos vermelhos. A casa ia enchendo-se de gente e convidava-se à festa, naquele que seria o 25 de abril mais multicultural da minha vida.
Argentinos, chilenos, espanhóis, italianos, mexicanos, franceses, holandeses, americanos....
Quase todos trouxeram cravos. Os que não conseguiram encontrar, fizeram cravos de papel!!! Não queria acreditar!
Festejaram e partilharam comigo um dia muito especial, e que possivelmente a eles lhes dizia muito pouco ou nada.
Foi o seu carinho, afecto e entusiasmo que construiu a ponte que aproximou Latino América de Portugal (a tal ponte 25 de abril,quiças...).
A tantos mil quilómetros e tão perto!
Esta sensação já tinha sido sentida outras vezes noutras ocasiões, o que só prova que o ditado está errado- longe da vista também pode estar perto do coração... muito perto...
O Zeca canta-nos o Grândola, Vila Morena e um coro uníssono de vozes junta-se à voz dele e grita vários "viiinte cinco de abril siempre!!", que me emocionam e me fazem ficar com pele de galinha.
Cantou-se a L'Estaca, a Bella Ciao, La cucaracha, Hasta siempre, e outras músicas revolucionários de vários sítios do globo.
O sector espanhol introduz uma música para cantar à desgarrada cujo estribilho era "La Tarara si, la Tarara no, la Tarara madre, que la canto yo!!" e que ficaria para a história como a música-top da festa e também de certa forma, a responsável pelo seu final.
Eram já duas e meia da manhã mas os animos estavam em alta, a música cantava-se num volume altissimo e quase gritado, acompanhado por patadas no chão que marcavam o tempo.
As consequências da vitalidade fiestera não se tardariam a sentir.
Campaínha. Silêncio. É o vizinho do lado.
Diz-nos : "Che, que buena onda, pero es que tengo un niño pequeño"
Desfazemo-nos em desculpas e que iremos abrandar o barulho e música ao vivo.
Para grande espanto e surpresa de todos responde-nos que não quer que paremos, que estava a gostar muito do que estava a ouvir.
Imediamente convidamo-lo a juntar-se à festa. Hesita porque tem o filho pequeno em casa. Digo-lhe que pode trazê-lo e pô-lo a dormir no meu quarto (por onde aliás já tinha passado a filhota da Augustina).
- Che, qué buena onda es el vecino!!! - comentamos todos.
A presença portuguesa reforça-se com a chegada de 3 portugueses que se juntam à festa e que são calorosamente recebidos.
Chega a Karina, cantora porteña de fados e tangos e regala-nos um divino "Barco Negro"...
Novamente a campaínha. Novamente momento de suspensão.
O vulto de um senhor pelos seus 40 anos, aparece-nos revoltadissímo por detrás da porta.
Olha incrédulo e desconcertado para a numerosa quantidade de pessoas que o fitam apreensivas. Pergunta :
- "Pero quien es el dueño...Donde está el dueño?"
Num tom acusatório que quase roça os maus modos, diz que não acredita como é possível que a raça humana consiga fazer tanto quilombo!!??
Claro que o pobre senhor tinha toda a razão, principalmente porque tinha que trabalhar no dia seguinte, mas a sua expressão de total e absoluta incompreensão e o seu ar atónito e perdido, tornou este momento no mais cómico-trágico da noite!
A festa ainda se prolongou até mais tarde mas sem cantigas, palmas e principalmente sem patadas no chão...!
No dia seguinte, ao pequeno-almoço, eu e a Sílvia (mi compañera de piso) voltamos a ter um ataque de riso quando nos lembramos da multidão descontrolada a cantar a Taranda golpeando o chão, e imaginamos a cara perturbada e assustada do vizinho de baixo, seguramente em pânico que o tecto lhe caía cima....
"Todas las voces todas
Todas las manos todas,
Toda la sangre puede
ser canción en el viento
Canta conmigo canta,
hermano americano
Libera tu esperanza
con un grito en la voz"
in Canción con Todos
6 comentários:
aquí tienes también mi clavel virtual-ecológico-orgánico y no-transgénico desde el otoño del bolsón!
la chonchi
Como eu gostaria de ter cantado essa liberdade toda, ao vosso lado.
Esse som vermelho com cheiro a cravo...
Beijos de quem está sempre perto.
Tua Maria(na)
Beleza... :) Tiveste mais vinte e cinco que eu, e eu estou cá...
beijos e cravos, Lili.
Oh mana que saudades desse teu bicho social que arrasta multidões com as suas canções! Bom 25 de Abril!
Muitos beijos, beijos, beijos, 1, 2,3!! Tchau!!
minhas lindas,estão cá. mesmo!
e não apenas virtualmente.
Brindemos aos laços que nos aproximam e à amizade que gostamos de partilhar!!
beijos re-imensos
O Claudinha,
oggi 15/5 C + L ed io t'inviamo i nostri più cari auguri di Buon Compleanno. facci sapere come l'hai festeggiato.
baciiiiiiiiiiiiiiiiii
Mariapia ;o))
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